Alguns dias atrás tive a oportunidade de colaborar com uma matéria de um jornal local sobre o uso de redes sociais dentro das escolas da região. A matéria do Portal Gaz (que você pode conferir na íntegra aqui) entrou em contato com as principais escolas da região, procurando entender melhor como os gestores destes locais enxergam a presença da internet e dos dispositivos móveis nas mãos dos jovens.
A minha participação apenas serviu como base para mostrar que há alguns meios onde os professores podem aproveitar as redes sociais e a internet em geral para tornar as suas aulas mais atrativas, interessantes ou completas. O problema é que na maioria das vezes estes caminhos necessitam da colaboração e bom senso dos alunos e até do professor.
Como as redes sociais podem ajudar nas escolas?
O uso da internet para a educação é assunto que nem se discute mais, já que tem acesso à internet em quase todas as bibliotecas do mundo e esta rede é uma fonte inesgotável de informações que está em constantemente expansão. Porém, se a expansão de conteúdo e aprendizado é constante, o número de distrações e ferramentas de entretenimento parece ser muito maior.
Para que algum professor consiga aproveitar o que a internet tem de melhor, devemos partir para os pontos mais fortes desta rede: o acesso à informação e a colaboração. Um dos grandes trunfos da internet é possibilitar que “todos” tenham acesso a informações que antes nem pessoas da alta sociedade tinham – pelo menos não com tanta facilidade. A informação é gratuita na maioria das vezes e está apenas a um passo de qualquer um com acesso à internet.
O papel do professor, quando se trata de ensinar os seus alunos a trabalhar de forma proveitosa para os estudos, é de mostrar como usar as principais ferramentas da internet, como os buscadores, de forma eficaz. Não estamos falando em ensinar a buscar no Google, mas mostrar o que pode ser procurado, como deve ser procurado e onde está a informação em que se pode confiar. Mostrar o mundo complexo e interessante que há além dos sites educacionais, dar acesso à internet e esperar que os adolescentes acessem apenas o Wikipedia é apenas um delírio.
Um ponto importante de ser considerado quando falamos de internet é mostrar aos novos usuários que ela é construída por pessoas e que eles, como parte deste sistema vivo, também podem colaborar e fazer parte da construção do conhecimento da humanidade. Pode parecer algo grandioso falando assim, mas, na verdade, quando criamos qualquer conteúdo na internet estamos colaborando para o registro da humanidade, de alguma forma. Para mim, um exemplo de projeto que pode ser trabalhado dentro das escolas – e que de fato já é feito em alguns lugares – é a utilização do conhecimento dos alunos que de forma colaborativa contribuem para projetos que já existem, como por exemplo o Wikipedia. Imagine que ao invés de dar um trabalho sobre a Segunda Guerra Mundial, o aluno tenha como trabalho escolher um artigo de história e propor melhorias no artigo. Desta forma ele não está colaborando apenas consigo mesmo, mas com todos aqueles que utilizam a enciclopédia diariamente.
Não precisamos nos prender apenas a Wikipedia. Imagine que as dezenas de alunos que têm aula de inglês, alemão ou qualquer outro idioma podem se unir para trabalhar em tradução de projetos ou na interação com alunos que vivem em outras escolas ou até outros países, porque não.
As possibilidade de trabalho com as mídias sociais são infinitas, de fato, mas não podemos nos esquecer que o maior interesse de boa parte dos adolescentes ainda são as redes sociais.
Como as redes sociais podem atrapalhar nas escolas?
Você não precisa procurar muito para encontrar professores e pais que estão descontentes com a atitudes de seus alunos/filhos dentro da sala de aula. Ao invés de estudar, os jovens passam boa parte da manhã navegando no Facebook e trocando mensagens no WhatsApp. O que a escola faz? Proíbe o uso de computador na escola e bloqueia acesso à internet WiFi. Os alunos agora têm smartphones e seus próprios planos de dados. O que a escola faz? Proíbe o uso de celulares e smartphones dentro da sala de aula.
Neste contexto, qualquer aluno que tenha o mínimo de interesse em trabalhar com um computador ou tablet dentro da sala fica limitado a usar um lápis e um papel, igual a seus avós, dezenas de anos atrás.
O grande problema é que parece não haver uma solução fácil para este problema. Os alunos encontram diferentes formas de acessar redes sociais, internet ou seja o que for durante a aula, o professor pode proibir, mas tudo que ela irá conseguir é um aluno mais barulhento dentro da sala. Há até aqueles professores que deixam os alunos usando celulares, justamente para diminuir a bagunça. Mas isso infelizmente não resolve nenhum dos problemas.
Muitos atribuem esta necessidade de estar conectado não apenas a uma característica destas gerações, mas também a uma grande falha do sistema educacional, que usa os mesmos métodos arcaicos para ensinar aos alunos. O sistema de educação que já vem de alguns séculos atrás e que parece ter sofrido pouquíssimas mudanças ao longo de todo este período não parece mais ter salvação.
De fato, as redes sociais acabam atrapalhando a concentração dos alunos, que prestam menos atenção na aula e por consequência, muitas vezes, acabam indo mal nas provas e trabalhos e se formam praticamente como analfabetos funcionais. O problema não é apenas deles, porque o sistema em que estão inseridos também colabora para uma educação de baixa qualidade. Mas isto é o suficiente para simplesmente culpar os professores, que parecem não estar preparados para estas novas gerações?
Mas os professores estão preparados?
A resposta mais óbvia é não. Os professores realmente não estão preparados para isto. Mas não culpe eles, porque muitos deles trabalham mais de 40 horas por semana e passam boa parte do resto do dia corrigindo provas e trabalhos, que na maioria das vezes vão além das 40 horas de trabalho. Como vamos esperar inovação, criatividade e disposição de professores que vivem nestas condições?
Mas há aqueles que têm mais tempo, mas muitas vezes as suas tentativas de fazer algo diferente, mais adaptado ao contexto desta geração, acabam sendo barradas por gestores de escola que não querem arriscar o seu sistema tradicional ou não querem deixar que algum professor mude muito o sistema para que os outros professores não se sintam pressionados a fazer o mesmo.
O que os gestores dizem:
A grande maioria dos profissionais por trás da direção das escolas sabe da força que estas tecnologias tem, mas ao menos aqui na minha cidade, segundo a matéria citada, a maioria das escolas bloqueia ou não incentiva o uso destas práticas. Mas é interessante ver que ao menos a grande maioria deles está consciente do que está acontecendo e alguns deles já sabem que é um caminho sem volta, algo que terá que ser incorporado ao dia-a-dia dos alunos em algum momento.
Como é na sua cidade? Esta matéria acaba retratando muito mais a cidade onde vivo, uma pequena cidade do interior do RS. Como é a realidade das redes sociais nas escolas da sua cidade?