Esta semana vamos trazer diversas entrevistas com alguns dos principais nomes do Marketing Digital e Comunicação Digital no Brasil. Hoje estamos trazendo Ronaldo Lemos. Confira também outras entrevistas:
- Entrevista com Conrado Adolpho. Marketing Digital no Brasil.
- Entrevista com Rene de Paula. Comunicação e Mídias Sociais.
- Entrevista com Ronaldo Lemos. Comunicação, Internet e Direitos Autorais.
- Entrevista com Gabriel Rossi. Mídias Sociais e Digital Branding.
- Entrevista com Tarcízio Silva. Análise, Métricas e Mensuração.
- Entrevista com Nino Carvalho.Planejamento e Marketing Digital.
- Deixe a sua sugestão de quem deve ser entrevistado!
Ronaldo Lemos é diretor do Creative Commons no Brasil e também diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas. Hoje em dia também apresenta o programa Mod MTV no canal MTV.
Desde o surgimento da internet a pirataria tem se tornando a grande dor de cabeça para empresas ligadas ao ramo de áudio, vídeo e imagem. Você acredita que haja alguma solução para este problema ou as empresas vão ter que aprender a viver com o problema?
Esse é um ponto fundamental. As empresas têm acreditado que “travas digitais” como os chamados DRM´s (Digital Rights Management Systems) coibirão a pirataria. Como a indústria de música demonstrou, os DRM´s não funcionam, ao ponto de terem sido abandonados. Dessa forma, a única e melhor forma de se evitar a pirataria é a combinação de três fatores: catálogo, portabilidade e preço. É preciso que o catálogo de conteúdos ofertados no Brasil seja amplo e que o consumidor encontre facilmente o que procure. A portabilidade também é essencial, isto é, os produtos devem ser compatíveis com os diferentes aparelhos existentes no mercado, dando ao consumidor a possibilidade acesso no aparelho em que preferir (incluindo aí tablets, computadores, celulares etc). Por fim, a questão principal é o preço. A melhor forma de combater a piratariaé oferecendo conteúdos de forma conveniente e a um preço compatível com o nível de renda do país. Em outras palavras, muitos conteúdos no Brasil são vendidos ao mesmo preço em que nos EUA, só que a renda do Brasileiro é 4 vezes menor do que a do americano.
Hoje já podemos ver diversos serviços como Youtube e Grooveshark que tem recorrentes problemas com a justiça. Como você acha que o mercado da música e vídeo está se alterando com a internet?
Muita gente já falou que os serviços de streaming podem ser uma das saídas contra a pirataria. Infelizmente no Brasil a conexão à internet geralmente não oferece qualidade necessária para uso desta tecnologia. Você acha que Streaming no Brasil vai ser usado como é lá fora onde tem Netflix, Hulu e outros serviços?
Respondendo às duas perguntas,acho que o streaming está se tornando cada vez mais importante e está sendo visto como um dos caminhos para a indústria musical tradicional. Faz sentido. Na medida em que os catálogos se ampliarem online e for possível ouvir um grande número de faixas a um preço razoável, dá-se um passo na direção de um modelo que faça sentido economicamente para a tecnologia de hoje. O streaming pode se remunerar tanto por publicidade quanto por serviços de assinatura e são muitos os serviços que hoje apostam nisso: Spotify, Rdio, Grooveshark, Deezer e assim por diante.
O sucesso de cada um deles é relativo. Alguns parecem promissores, outros nem tanto e outros enfrentam problemas legais. Mas nenhum conseguiu se tornar totalmente sustentável até agora. A razão para isso, e também para os processos enfrentados, é a questão dos direitos autorais: para oferecer um serviço de streaming é necessário remunerar cada um dos intermediários da cadeia, que chegam a ser 5 a 6 por cada música. Com isso, sobre pouco dinheiro para os artistas e também para o próprio serviço. Esse é o principal desafio de toda a indústria tradicional: como reinventar o modelo de remuneração, permitindo que o preço final para o consumidor seja atrativo e não inviabilize os negócios em torno da música.
Sabemos que você é diretor do Creative Commons no Brasil. Sabendo desta posição, gostaria de saber se você sabe dizer como o CC pode ser bom para as empresas?
O Creative Commons é um projeto que facilita o licenciamento de obras. Ele funciona como uma ferramente que permite a qualquer criador intelectual dizer o que pode ou não ser feito com a sua obra. Além disso, ele é um tipo de licença que fundamenta a criação colaborativa, o que em si já permite novos modelos de negócio e de produção de conteúdo. Por exemplo, a Wikipedia é licenciada em Creative Commons. Graças à licença do CreativeCommons, qualquer pessoa que contribui para ela, melhorando um artigo já existente, não precisa pedir autorização, exatamente porque a autorização já foi concedida através da licença. Em outras palavras, sem o Creative Commons ou alguma outra forma delicenciamento similar, seria impossível a existência de um projeto como a Wikipedia.
Um dos principais pontos do Creative Commons é conjugar liberdade de acesso à obra com a possibilidade de gerar receitas. Um artista pode escolher uma licença que permita o acesso à obra apenas para fins não-comerciais. Se ela for usada para fins comerciais, os direitos autorais devem ser normalmente pagos. Por exemplo, meu livro Direito, Tecnologia e Cultura é licenciado por Creative Commons. É permitida a cópia e a distribuição para fins não comerciais. Mas ao mesmo tempo ele é publicado normalmente pela editora FGV, vende o livro em livrarias de todo o país. Na música é a mesma coisa. Muitos artistas licenciam suas músicas para serem livremente distribuídas para fins comerciais. Mas quando aquela música toca em no rádio ou na televisão, os direitos autorais devem ser normalmente recolhidos. Essa possibilidade de conjugar ampla distribuição com a exploração comercial da obra é Creative Commons.
Qual sua aposta para o futuro do marketing digital no Brasil?
Acho que o futuro do marketing digital é estabelecer relações para valer com os consumidores, em que o consumidor pode transformar o produto e a sociedade na medida em que toma suas decisões sobre o que consumir. Muita gente já começa a perceber as vantagens da internet para o marketing, mas estamos em um momento superficial, em que temos muitos fogos de artifício e pouca substância. As coisas vão ficar interessantes para valer quando o consumidor começar a ser positivamente surpreendido com novas formas de relacionamento que incluam valores substantivos como confiança, respeito, transparência e responsabilidade social, estabelecidas através da rede.