Quem me conhece pessoalmente ou me segue no Twitter já deve ter me visto falar sobre os filtros que utilizo em diferentes situações. Apesar de no fundo ser uma brincadeira, é na verdade um processo natural pelo qual todos passamos automaticamente, sem perceber que filtros estão sendo aplicados. Na internet, estes filtros ficam muito mais evidentes.
Um exemplo prático de como esses filtros funcionam. Pense nas músicas que você gosta, como você descobriu elas? Você usa diversos fatores construídos ao longo da sua vida para definir o que é uma música boa e o que não é, esse é um dos primeiros filtros. Mas como você descobre músicas novas? Se você escuta apenas o que passa na rádio, você está elegendo o rádio como o seu filtro. Se você escuta apenas um estilo musical, provavelmente tem pessoas que você considera bons “indicadores de música” para aquele estilo. Em uma época onde se fala que a obesidade de informação talvez seja um dos principais problemas do século, saber filtrar a quantidade de informações acaba sendo essencial. Se na vida desenvolvemos os nossos próprios, precisamos aprender a usá-los efetivamente na internet.
Eles acham que inteligência é notar coisas que são relevantes (detectar padrões); em um mundo complexo, a inteligência consiste em ignorar coisas irrelevantes (evitar padrões falsos). Nassim Taleb, vi no livro “Conecte-se ao que importa” do Pedro Burgos
Inclusive, para quem acompanha o Midiatismo a mais tempo, deve ter percebido uma redução na quantidade de publicações. Poderia dar diversas desculpas para isso, e tenho, mas uma das questões que acredito ser mais relevante para isto é que não tenho a intenção de apenas replicar conteúdo de outros lugares. Se há um assunto que eu ache interessante, mas que acredito que não conseguirei adicionar nenhuma informação a mais, apenas a cito na newsletter (não conhece o Midiatismo News ainda? Corre la!).
Não é a toa que o trabalho de curadoria tem ganho tanto espaço recentemente. É humanamente impossível acompanhar todos os blogs e sites que gostaríamos, por isso elegemos inconscientemente pessoas que acreditamos ser boas fontes de informações – essas, por sua vez, também tem seus próprios filtros. Quando comecei o Midiatismo News, alguns meses atrás, citei o trabalho do Pedro Burgos, no Oene, e do Rodrigo Ghedin, no Manual do Usuário, ambos tem ótimas newsletters semanais que trazem um resumo e opinião de assuntos relevantes, cada um com uma temática diferente.Esse formato tem crescido justamente porque as pessoas não tem mais como acompanhar tudo que querem, precisam usar filtros.
Quando entro no assunto “filtros de informação”, sempre menciono o IMDB, o maior portal de informações e avaliações de filmes. Anualmente são lançados milhares de filmes, só no IMDB foram cadastrados 8,702 em 2013. Levando em conta que temos apenas 365 dias por ano, isso da cerca de 24 filmes por dia. Nem vendo dois filmes ao mesmo tempo você conseguiria tal façanha. O que nos resta? Filtrar. Filtrar por gênero, filtrar pelo diretor, pela indicação de um amigo, enfim, ache filtros que melhor lhe sirvam.
Sou bombardeado por anúncios de filmes, indicações de conhecidos, gente comentando no Twitter, mas como não conseguirei ver todos, preciso de um filtro. Sempre que vejo um filme que parece interessante, verifico a nota dele no IMDB. Se a nota for menor que 8, eu deixo para ver algum outro filme que sido indicado e tenha uma nota maior, pois a chance de gostar do filme tende a ser maior, já que ele é melhor avaliado. É claro que nem sempre o filtro é aplicado, as vezes a indicação veio de alguém que você confia ou de algum lugar que sempre teve boas indicações. Sharknado, por exemplo, tem nota 3,3, mas é um clássico dos filmes trash. Da mesma forma que já vi filmes com notas altas em vários locais, mas que eu não gostei. Nenhum filtro é perfeito.
O EdgeRank, como já falamos aqui, é o sistema do Facebook que define o que aparece ou não no seu feed de notícias. Ele leva em consideração o seu histórico com cada um de seus amigos e tudo o que você compartilhou para definir quais posts devem te interessar mais. É impossível ver todos os posts do Facebook, então você confia neste filtro para te trazer o que é mais relevante (ou pelo menos o que o Facebook considera mais relevante).
Este assunto é muito polêmico e tem levantado muitas discussões. Eli Pariser, autor do livro “A Bolha do Filtro”, que já apresentou o tema no TED, fala justamente sobre o perigo destes filtros automáticos, que tendem a nos deixar presos dentro desta “bolha”.
Para Eli, tendemos a ler opiniões que nos interessam e isso com certeza apenas reforça a nossa opinião, mesmo que ela não seja a mais correta. É natural e importante que nossas opiniões sejam confrontadas, pois assim validamos elas e refletimos sobre o que estamos pensando. Se vivermos dentro deste nosso pequeno ‘mundinho’, tendemos a apenas reforçar opiniões erradas e preconceitos não fundamentados.
Talvez um dos maiores perigos da liberdade da internet seja justamente ela ser usada para reforçar preconceitos, pois buscamos apenas por aquilo que nos agrada. Pretendo aprofundar melhor aqui no blog a ideia de Eli Pariser em breve, pois discordo de alguns pontos trazidos por ele. Mas é uma reflexão excelente e muito importante. Então quais são os melhores filtros? Isso é único para cada pessoa.
A principal dica é perceber a existência desses filtros. Aprenda a identificar eles e também a desapegar deles quando necessário. Não gostou daquele livro que alguém lhe indicou? Procure outro filtro. Peça indicações para outras pessoas.
Atualização #1 – 13/10/2014 17:50 Para complementar o assunto, hoje li o texto “Why I stopped reading/hearing/watching the news” onde o autor explica porque parou de ver as notícias. Um dos principais pontos é, justamente, o excesso de informação que estamos expostos.